Cirurgia Reparadora da Face auxilia criança com lacerações e fraturas após mordida de cachorro

Data publicação: 16/12/2020

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A Cirurgia BucoMaxiloFacial é uma especialidade da Odontologia que trata das afecções da face como trauma, tumores, deformidades esqueléticas e infecções, fazendo parte do hall de urgências e emergências dos hospitais do Estado. Dos casos tratados e que causam maior comoção, se destacam os pacientes que apresentam os grandes traumas faciais, advindos de acidentes de trânsito, violência interpessoal e os traumas por mordedura de animais. Recentemente uma cirurgia realizada pela equipe do Hospital da Restauração em uma criança mordida na face por um cão recebeu destaque e contou com Cirurgiões-Dentistas BucoMaxiloFaciais à frente. Os Hospitais da Restauração e Getúlio Vargas, aqui no Recife, geralmente absorvem esses pacientes oriundos de traumas graves de face, realizando procedimentos como a Cirurgia Reparadora da Face e anexos.


A Cirurgiã-Dentista BucoMaxiloFacial Suzana Carneiro foi chefe de cirurgia junto ao Cirurgião-Dentista BucoMaxiloFacial David Moraes. Os residentes Rosa Lins, Francisco Júnior e Maxsuel Bezerra integraram a equipe durante o atendimento no Hospital da Restauração à criança com lacerações e fraturas na face."No HR atendi diversos pacientes com traumas de face e, recentemente, uma criança de cinco anos que sofreu uma agressão por um cão da raça Pitbull que chegou ao serviço com fraturas de mandíbula e extensos ferimentos em tecido mole da face. O paciente quando chega ao serviço com um trauma de face e boca é inicialmente avaliado de forma geral", explicou.


"Normalmente os pacientes que chegam na emergência são os oriundos de quadros agudos, como trauma, dor articular e infecção odontogênica que requer tratamentos como drenagem e ainda, algumas ostomielites. Os casos de trauma necessitam muitas vezes de uma abordagem imediata, pois podem ter sangramentos graves, hipovolemia, choque hipovolêmico, bem como traumatismos associados a outras áreas, necessitando também de especialistas em neurocirurgia, cirurgia torácica, cirurgia abdominal, traumatologia, dentre outras e, consequentemente, a necessidade muitas vezes de intervir em equipe. Normalmente as fraturas são abertas e esses pacientes tem de ser operados imediatamente, desde que o quadro geral deles permita, a fim de reduzir e fixar as fraturas que compõem a face, como a região frontal, orbitária, maxila e a mandíbula e, dessa forma, deixar a oclusão dentária numa posição adequada ou a melhor possível", explica Belmiro Vasconcelos, Cirurgião-Dentista BucoMaxiloFacial há 34 anos no Hospital da Restauração.


Há, ainda, os pacientes que chegam eletivamente com fraturas fechadas, neoplasias muitas vezes não requerendo emergência. Nestes casos, normalmente há o internamento e o planejamento pré-operatório com todos os exames complementares de imagem e sangue, além do parecer cardiológico.


"Eu diria que a Cirurgia e Traumatologia BucoMaxiloFacial é como qualquer outra especialidade cirúrgica na área médica, em que os pacientes sentem dor ou desconforto, e querem ser tratados. Eles têm fraturas faciais que não são diferentes de fraturas cranianas, nem de fraturas de extremidades. Então os pacientes se recuperam quanto à função, quanto à estética e à autoestima", reforça Vasconcelos.


Miguel Arcanjo, diretor do Hospital da Restauração, enfatiza a importância da atividade desenvolvida pela equipe de profissionais Bucomaxilofacial à população, Instituição e Saúde Pública. "Na verdade, a Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial faz parte dos atendimentos aos pacientes vítimas de politrauma desde sempre no HR, sendo indispensável num hospital de grande porte junto a todas as outras áreas, como por exemplo a Neurocirurgia, Cirurgia Geral. Não existe trauma sem apoio do Cirurgião Bucomaxilofacial. Neste caso em particular da criança, a mordedura aconteceu na face com muitas fraturas e houve um trabalho excepcional desenvolvido pela equipe: Dra Suzana, Dr Belmiro, Dr Carlos Lago e todos os profissionais colaboradores que realizaram o atendimento traumatológico para, após isto, o paciente ser transferido para outra unidade de saúde."




Para além do trauma físico


Atuando no HR e na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro há cerca de 27 anos, Dra Suzana reforça a importância do compromisso do atendimento humanizado vislumbrando o bem estar dos pacientes. " Trabalhar com pacientes quando temos a devida proporção da importância do serviço prestado pelo Cirurgião Bucomaxilofacial tem dimensões diversas porque o trauma de face muitas vezes produz desfiguração, repercussões estéticas e na autoestima das pessoas. E, quando isso acontece, é mais estressante. Há alguns anos atendi uma criança que sofreu uma mutilação na região labial inferior em consequência de uma infecção grave que evolui rapidamente e a paciente passou aproximadamente três meses internada na UTI. Depois, ela retornou junto com a mãe somente para agradecer o atendimento. Outra criança foi vítima de acidente por arma de fogo e perdeu a visão dos dois olhos e, mesmo assim, conseguiu escrever um bilhete dizendo: tia eu te amo. Então, a recompensa maior é essa: poder fazer alguma coisa por esses pacientes tão sofridos."


"Na área da traumatologia temos que motivar muito os pacientes porque a recuperação não é fácil no pós-operatório, mas eles ficam muito felizes, principalmente quando não têm sequelas graves. Uma outra coisa que eu observo muito são os pacientes que tem cistos e tumores, em geral, no rosto. Esses pacientes sofrem muito...quem não sofre por ter um tumor? Eles vêm muito ansiosos e, após essas intervenções, ficam tranquilos interiormente. Embora muitos tumores ou a totalidade dos tumores requer um acompanhamento a longo prazo pelo Cirurgião Bucomaxilofacial", registra Dr. Belmiro.


O profissional ainda complementa a questão relembrando que "a Cirurgia Ortognática corrige as deformidades faciais e tem um cunho funcional e estético, sendo essas cirurgias eletivas onde os pacientes ganham na sua maioria, uma nova face. Às vezes tem de mudar a identidade e, seguramente, sua autoestima, vida social, a questão matrimonial, a questão laboral, é algo muito forte no tocante a mudanças favoráveis pós intervenção. Então eu diria que essa parte de cirurgia estética e funcional que é a Cirurgia Ortognática é vislumbrante: Eu noto os pacientes ficarem muito felizes, é algo impressionante".


O atendimento humanizado da equipe aos pacientes também é destacado por Arcanjo como diferencial na atuação em situações delicadas como traumas e no aprendizado proporcionado por um Hospital de Ensino. "O Hospital da Restauração tem sido ponte de ensino para os futuros Cirurgiões Bucomaxilofaciais, que aprendem com todo carinho a acompanhar os pacientes. A Equipe Bucomaxilofacial conta com profissionais de grande destaque e atuação na Instituição por mais de 25, 30, 40 anos. Isso faz com que a Universidade, de certa maneira, dependa da Instituição para ensinar seus residentes, as equipes, os estudantes, pois é onde o trauma acontece. Aqui no HR e no Hospital Getúlio Vargas são os locais onde há o aprendizado. A Restauração, por ter Neurocirurgia na sua grade, recebe os traumas graves", explica.




Ensino humanizado


De acordo com Vasconcelos, a formação do Cirurgião Bucomaxilofacial é complexa, podendo o profissional brasileiro atualmente fazer uma especialização em cirurgia ou uma residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. "Não há como aprender sem você ter vivência hospitalar e ela é muito importante exatamente porque os residentes circulam junto à UTI, à Cirurgia Geral, à Traumatologia, à Clínica Médica, começando a aprender sobre exames complementares e adquirindo conhecimentos da medicina junto aos da Odontologia e da própria Cirurgia Bucomaxilofacial. Nessa especialidade, que é eminentemente cirúrgica, tem de se ter muita prudência porque pode causar morbidades quando mal indicada ou quando mal operada e até mortes. Mas defendemos a residência com a formação ampla."


Segundo Vasconcelos, a Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial está bem colocada no SUS, sendo a única especialidade odontológica que está na atenção terciária com obrigatoriedade dos governos estaduais em contratar cirurgião-dentista que seja especialista em Cirurgia e Traumatologia BMF. "Em todos os hospitais de grande porte no Brasil relacionados ao SUS, ligados ao Ministério da Saúde, tem a especialidade de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Aqui, por exemplo, nós temos a especialidade na atenção terciária no Hospital da Restauração, no Hospital Getúlio Vargas, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Hospital das Clínicas e no Hospital Regional do Agreste, que são hospitais de referência. O SUS cobre, eu diria, em maior amplitude ou toda a amplitude das Cirurgias Bucomaxilofaciais, embora existe digamos um represamento no número de intervenções cirúrgicas porque há necessidade de contratação e concurso de novos Cirurgiões Bucomaxilofaciais. Nos hospitais privados também se requer a necessidade do profissional, já que os procedimentos da especialidade são requisito da própria ANS e os pacientes estão aí com enfermidades para serem tratados na rede complementar."


"Eu acho que nesse período de pandemia (Covid-19), mesmo com todas as dificuldades ou limitações em relação a questão do controle da disseminação da doença, no Hospital da Restauração, de intervenções cirúrgicas eu posso falar por ele, nós tivemos aproximadamente 280 cirurgias, fora o número de atendimentos de pacientes que chegaram com dor, com abscessos que precisaram ser drenados, ou pequenas fraturas que foram tratadas de forma fechada na emergência e os pacientes acompanhados a posteriori."


"Os profissionais aqui dedicaram a sua vida aos pacientes, porque a Instituição é apenas o meio por onde isso acontece: Não se trata apenas de operar, há um cuidado que vai além da atividade operatória da área. Os estudantes que aqui chegarem vão aprendendo isso com a equipe e o quadro vai se renovando. A renovação faz parte do sistema e estamos renovando a equipe, mas o compromisso é sempre o de realizar atendimentos como este que foi realizado", finalizou o diretor do HR.



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